Geralmente entendemos que acessibilidade se restringe apenas ao desenvolvimento de produtos voltados para Pessoas com Deficiência (PcD).
Muitas vezes acabamos nos esquecendo que, quando aplicamos a acessibilidade em um produto digital, permitimos e melhoramos o acesso à informação por qualquer pessoa (inclusive Pessoas com Deficiência) em qualquer tipo de aparelho com acesso à internet, independente de hardware, software ou idioma, seja um celular, um smartwatch ou até mesmo uma geladeira.
Como não se deve pensar em acessibilidade em uma empresa?
Segundo Sheri Byrne Haber, especialista em usabilidade, há vários hábitos que contribuem para a ausência de acessibilidade em uma empresa:
- Decisões e ajustes simples sempre são ignorados e não priorizados no dia a dia;
- As decisões de negócios prevalecem em detrimento das decisões técnicas;
- Se precisar cortar custos, todos que são relacionados a acessibilidade são os primeiros a serem cortados;
- Não há funcionários com deficiência (o processo de inclusão é muito importante de ser trabalhado);
- Não há possibilidade de trabalho remoto para funcionários com deficiência;
- Não há evolução/ inovação além da WCAG (conjunto de diretrizes básicas de acessibilidade).
Acessibilidade digital é ( ou deveria ser) um processo estruturado
Quando um novo produto está sendo produzido na empresa, o primeiro ponto a ser levantado na questão de acessibilidade é em qual nível de acessibilidade a empresa pretende chegar.
As empresas podem ser classificadas em 5 níveis em relação à acessibilidade:
- Não está no radar: o tema ainda não é uma prioridade ou não entrou em discussão (realidade de grande parte das empresas);
- Compliance: Empresas se concentram apenas na conformidade (se preparam apenas para atender a legislação), no caso, a LBI (Lei Brasileira de Inclusão);
- Competência: A empresa começa a desenvolver competências por áreas e times (quando percebe a melhoria de qualidade do produto);
- Capacitação/oportunidade: A capacitação dos times é uma realidade e há uma maior capacidade de identificar oportunidades e necessidades;
- Competitividade: A empresa percebe que a inclusão oferece uma vantagem competitiva e a acessibilidade, bem como a inclusão e diversidade, fazem parte da estratégia e não são mais iniciativas apartadas.
Quando as empresas chegam no nível máximo, como a Disney e a Apple, elas tendem a ser referência no mercado, pois seus produtos atendem a todas as pessoas por serem inclusivos, acessíveis e podem ser adquiridos por qualquer pessoa, independente do uso de uma tecnologia assistiva. Neste nível, a acessibilidade já é parte da estratégia dos produtos.
Quem é responsável pela (má) experiência de um produto ou serviço?
Quando pensamos na experiência de um produto com foco em acessibilidade, todos os departamentos envolvidos tem participação no resultado final: CX/UX, TI, Qualidade e Testes, Marketing, Design, Negócios e Gestão:
- CX/ UX: responsável pela experiência do produto como um todo, desde o momento da aquisição;
- TI: responsável pela aplicação de seus produtos, técnicas e serviços de forma adequada;
- Qualidade de teste: responsável pela testagem dos produtos para que tenham a qualidade necessária;
- Marketing: responsável pelo anúncio do produto ao consumidor, seja por e-mail marketing, site ou vídeo;
- Design: responsável pela boa interação e comunicação visual da interface;
- Negócios: responsável por enxergar a acessibilidade como um fator relevante para o produto e por priorizar as atividades relacionadas;
- Gestor: responsável pela autonomia para que os times executem as atividades.
Como aplicar acessibilidade em um projeto
Para uma empresa começar a aplicar acessibilidade em seus projetos, é interessante levar em conta algumas premissas:
Acessibilidade não é uma feature
O primeiro ponto que devemos focar é que a acessibilidade não é uma feature e deve ser planejada desde o início do projeto. O mito de que acessibilidade custa existe justamente pela falta de planejamento da acessibilidade no projeto, pois o custo maior é o retrabalho para aplicação durante o projeto ou após a sua entrega.
Aplicando acessibilidade na prática
Uma dica muito importante para aplicação da acessibilidade é utilizar todas as documentações, princípios e heurísticas já existentes no mercado.
Para apps em Android, pode ser utilizada a documentação do Material Design; para apps em iOS, pode ser utilizada a documentação do Human Interface Guidelines.
Para produtos digitais em geral, a documentação da WCAG (Web Content Accessibility Guidelines) é uma ótima referência. São 78 critérios de acessibilidade, divididos em 4 princípios fundamentais – Perceptível operável (por toque e por voz), compreensível e robusto (funciona em qualquer lugar) – detalhados como checklist para te ajudar a deixar o seu site, plataforma ou e-commerce mais acessível.
Há uma versão do guia disponível em português, disponível neste link.
Acessibilidade digital está em todos os lugares
Para fecharmos este artigo, é importante ressaltar que a Acessibilidade está presente em todas as camadas de um projeto digital: Arquitetura de informação, Design de interação, Usabilidade, Conteúdo, Código, SEO, Ergonomia, Performance, Inteligência Artificial, Interfaces Conversacionais, entre outros.
Este artigo foi escrito com base no webinar realizado pela Tuia em conjunto com a Distrito realizado no dia 24/09/2020, que teve como convidado Marcelo Sales, Design Ops do Itaú e o tema “Acessibilidade: o que é e como aplicar no dia a dia do seu produto”
Acesse também o webinar no Youtube.
Quer dicas práticas de como aplicar acessibilidade em seu produto digital? Acesse este post com algumas dicas para aplicar no seu produto.